quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O COMÉRCIO DO PORTO - 8 DE AGOSTO DE 1975

Foi há 37 anos. Foi a 8 de Agosto de 1975. O saudoso "O Comércio do Porto", tal como outros grandes jornais vivia à deriva. O momento político era uma seta envenenada às Redacções dos jornais. Vivia-se num ambiente confuso, sobretudo de oportunismo.
Lembro, nesta data, aquela tarde de verão quente, quando cheguei à Redacção, com o encargo naquela semana (havia uma escala política) de coordenar a secção de Política, quando vi uma multidão na Praça de D. João I. Vivia-se em constante desassossego, com problemas em vários locais, com rebentamentos até. Era preciso ver o que se passava. E recordo-me de me dirigir a um camarada de profissão e pedir-lhe para ele ir ver o que se passava, mas ele esquivou-se ao pedido, alegando "eu só entro às 4". Foi quando vi, de pé, absorto, o meu velho camarada Ercílio de Azevedo, já uma saudade, senhor de um estilo de português perfeito, mas que andava meio abandonado e atordoado pelo que se passava à sua volta. Pedi-lhe para ele ir ver o que se passava. E ele foi.
Passaram-se três horas quando ele regressou. Dirigiu-se a mim e disse-me: "não sei o que pode acontecer sobre o que vou escrever. Quiseram dar umas estaladas no Otelo e no Fabião". Eram os dois generais do momento revolucionário que tinham estado a almoçar na Brasileira.
Como não seria de esperar outra coisa, Ercílio de Azevedo escreveu  o que viu e na minha frente colocou uma peça brilhante, à sua maneira, intitulada "Tripas à moda do Porto".
O que sei é que o trabalho do Ercílio foi impresso e mal a rotativa deu as primeiras voltas já havia gente à espera do jornal para ler a grande noticia do dia. A velha rotativa que dava umas voltas para tirar uns poucos milhares de exemplares, era uma hora da tarde e ainda rotava, resfolegando de esforço. Vendiam-se jornais a 100 escudos!
E, naquele dia, "O Comércio do Porto" tomou o pulso à gente do Porto e do norte do País. Era o Porto e o Norte que Pires Veloso defendia. Durante meses a tiragem do velhinho jornal andou sempre pela centena de milhar. Cumpria a sua missão. Mais tarde tudo mudaria com a nacionalização. E seria de degrau em degrau, sempre a descer. Até acabar com centena e meia de anos. Ainda hoje é saudade, tal como o Ercílio e aquele 8 de Agosto. 

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