terça-feira, 18 de dezembro de 2012

DO TEMPO DO MEU RICO DE GENTE POBRE

O velho candeeiro a petróleo. Lembro-me dele nesta data. Era ele que iluminava (não havia outro sistema de iluminação na casa do Delfim alfaiate) a ceia de Natal. À sua luz víamos as batatas com o bacalhau e a regueifa redondinha da 1º. de Maio. O pai ainda com alinhavos na camisa e a mãe de dedal no dedo. A minha irmã, a Antónia, ansiosa, pois a noite era diferente. Eu ficava mais triste porque sabia avaliar a diferença entre a nossa casa e a do vizinho, com luz eléctrica. Mas éramos felizes com pouco. Vinha depois a aletria na velha travessa com dois gatos que o amolador havia colocado para a salvar e a noite terminava com um copinho de vinho fino mandado pelo tio Joaquim, do Pinhão. Antes ainda se jogava o rapa a pinhões. Nada de bolo-rei ou pão de ló. Era a cama a seguir e a ansiedade das prendas no dia seguinte. Prendas pobres, mas cobertinhas de amor.
Era assim o meu natal há mais de 70 anos. Não queria morrer sem viver uma Ceia natalícia com tão puro ambiente.  

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