terça-feira, 18 de dezembro de 2012

NUNCA MAIS TE PERDOO PAI NATAL

Acredita, Pai Natal, nunca mais te perdoo. Desde pequeno que fui enganado que tu existias e eu acreditei. Era a minha mãe que o dizia. Todos anos, de celuloide, lá estavas tu no cimo do pinheiro de Natal. E eu até falava contigo à espera que não te esquecesses de mim. Mas um dia, há sempre um dia, quando na noite natalícia a minha mãe me aconchegou a roupa para dormir, eu vi-a pousar um carro de bombeiros, em folheta, em cima da cómoda. Era a tua prenda, mas não eras tu que a levavas. Fiquei triste e até me correu uma lágrima. Passei a não acreditar. E, no dia seguinte, espírito mau o meu, trepei a uma cadeira e peguei em ti e fui ao quarto de minha mãe apresentar queixa aos santinhos dela, diante dos quais tinha sempre uma lamparina de azeite acesa. E eis quando fixava os santos, aproximei-te da chama e tu foste engolido pela mesma, perante o meu espanto e susto. Acorreu a minha mãe, aflita, perante  a minha asneira, deu-me dois tabefes bem acertados. Nem tive tempo para me explicar.
A partir deste momento nunca mais tive conversa contigo. Vai intrujar quem tu quiseres. Anos mais tarde, aos meus filhos, era com relutância que lhes mentia, mas é da praxe mentir às crianças no Natal, pois até os graúdos mentem uns aos outros. Pior, dão abraços, desejam felicidades, mas aquilo tudo cheira a hiocrisia. E, então, nos tempos que correm!

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