terça-feira, 26 de junho de 2012

MORRER EM PÉ

Não vou escrever um apontamento que não me tenha chocado e de que maneira! Um testemunho dos tempos que vivemos.
Ao passar numa das ruas já perto da minha residência dei de frente com uma cara conhecida de há muitos anos. Há muito tempo que não nos víamos. O Miguel (nome fictício) pareceu-me com um ar doente e desleixado. Sabia que ele tinha estado a trabalhar fora do país, mas nunca tive notícias da sua estabilidade social. Agora fiquei a saber que regressara a Portugal e a Matosinhos, sua terra natal, em 2010. Ficara viúvo em França, desempregado, e vivendo do apoio de um filho com 45 anos, mas este também a lutar contra os pontapés da vida todos os dias. Regressou a casa de seu velhos pais e procurou emprego, ele que é um técnico especializado, mas tinha 75 anos. Nada arranjou. Recentemente faltou-lhe o pai e, agora vive só com sua mãe e comendo duma reforma já de si reduzida. O Miguel (nome ficticio) disse-me estar farto da vida. Sem dinheiro para um café e sem qualquer ponta de esperança. Conversamos, encostados à parede, e quase choramos. Nos olhos ele ainda vi humidade. Dei-lhe a esperança que se pode dar para quem a mesma não é quase nada. Procurei ajudá-lo e pedi-lhe um novo encontro. Fiquei com medo de o não ver mais.
É este o mundo, o Portugal em que vivemos. 

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