segunda-feira, 3 de outubro de 2011

COISAS DO OUTRO MUNDO

Com a devida vénia, tenho a honra de transcrever neste espaço, um dos muitos escritos, no JN, do meu antigo camarada de profissão Manuel António Pina, relembrando aquela nossa inesquecível viagem ao Brasil como convidados VIP da Varig. Foi há 24 anos.
O que vamos transcrever e oferecer a quem não leu no JN, é mais um dos imperdíveis momentos do insigne jornalista e escritor.
"Depois de seis mil milhões de dívidas vivas e a rabear descobertas nas contas de Alberto João Jardim, alguém se pôs, de novo a mando da "troika", a espiolhar a base de dados da Administração Central do Sistema de Saúde e deu com 500 médicos mortos, alguns dos quais, segundo noticiou o "Público", continuam a passar receitas. A notícia é omissão quanto ao facto de os falecidos continuarem ou não a receber salários, embora seja admissível, tratando-se de mortos, que trabalhem só para aquecer.
Cadáveres adiados que procriam receitas é coisa de grande assombração, sobretudo num país onde tantos mortos se sentam quietamente há anos nas bancadas do Parlamento e em gabinetes ministeriais e institutos sem procriar nada que se veja a não ser despesa pública.
E atestados médicos, continuarão os saudosos extintos a atestar que Fulano e Sicrano "se encontram doentes e impossibilitados de exercer as suas funções?" E certidões de óbito, próprias e alheias".
O estranho caso dos médicos que exercem na tumba põe complexas questões metafísicas para além da da vida profissional depois da vida. Uma delas é a existência de farmácias com comércio com o Além que aviam receitas passadas por fantasmas, certificadas com vinhetas que seria suposto vigorarem no Aquém, a almas penadas que, cheias de olheiras, se materializam às horas mortas das noites de serviço permanente para comprar comprimidos pra o sono eterno."

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