O que vamos transcrever e oferecer a quem não leu no JN, é mais um dos imperdíveis momentos do insigne jornalista e escritor.
"Depois de seis mil milhões de dívidas vivas e a rabear descobertas nas contas de Alberto João Jardim, alguém se pôs, de novo a mando da "troika", a espiolhar a base de dados da Administração Central do Sistema de Saúde e deu com 500 médicos mortos, alguns dos quais, segundo noticiou o "Público", continuam a passar receitas. A notícia é omissão quanto ao facto de os falecidos continuarem ou não a receber salários, embora seja admissível, tratando-se de mortos, que trabalhem só para aquecer.
Cadáveres adiados que procriam receitas é coisa de grande assombração, sobretudo num país onde tantos mortos se sentam quietamente há anos nas bancadas do Parlamento e em gabinetes ministeriais e institutos sem procriar nada que se veja a não ser despesa pública.
E atestados médicos, continuarão os saudosos extintos a atestar que Fulano e Sicrano "se encontram doentes e impossibilitados de exercer as suas funções?" E certidões de óbito, próprias e alheias".
O estranho caso dos médicos que exercem na tumba põe complexas questões metafísicas para além da da vida profissional depois da vida. Uma delas é a existência de farmácias com comércio com o Além que aviam receitas passadas por fantasmas, certificadas com vinhetas que seria suposto vigorarem no Aquém, a almas penadas que, cheias de olheiras, se materializam às horas mortas das noites de serviço permanente para comprar comprimidos pra o sono eterno."
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