sábado, 8 de outubro de 2011

UMA HISTÓRIA QUE POUCOS CONTAM...

Nos últimos dias tem-se escrito e falado muito sobre o saudoso treinador José Maria Pedroto que começou a jogar futebol no Leixões, nos juniores. Mas as conversas tem girado sobre o seu valor como treinador, afirmando alguns ter sido "o melhor de sempre". Não sabemos se foi ou não, mas também teve os seus momentos maus.
Fomos protagonistas no comunicar-lhe o seu despedimento, ou seja, da chamada chicotada psicológica. Estava ele nos seus primeiros tempos de treinador e treinava o Leixões.
O nosso Leixões, sob a sua direcção vivia um período periclitante, muito perto de baixar de divisão, depois de ter ido perder a Torres Vedras por 4-0, salvo erro. Já lá quase 50 anos.
Então a Direcção do Leixões, presidida por Francisco Mil Homens, tendo como vice-presidente para o futebol Crispim de Sousa, decidiu dispensar o treinador. Mas ninguém lhe queria dizer. Foi o autor deste apontamento, então secretário-geral do clube, que foi ao encontro de Pedroto e, nas escadas da sede na Rua de Roberto Ivens, lhe comunicou a decisão. Pedroto chorou ("não me façam isso"). Mas não havia volta a dar. A demissão foi um facto.
No outro dia, juntamente com Mário Maia, por incumbência da Direcção, fomos arranjar um novo treinador. E um jornalista amigo, António Pacheco, de "O Século", casado com uma senhora espanhola, indicou Ruperto Garcia, homem das Canárias, que havia deixado de treinar a selecção da Venezuela. Da descoberta à consumação do contrato foram as horas da vinda do avião.
E o bonacheirão do espanhol, tomou conta da equipa, e no domingo seguinte foi ganhar ao Seixal, por 3-0. E, assim, o Leixões safou-se da II Divisão.
Por ter conseguido tal, Ruperto Garcia escreveu uma pequena brochura com a sua biografia e numa das folhas dizia: "fui substituir Pedroto no Leixões e evitei que o clube descesse de divisão".
Anos mais tarde (Pedroto ficara zangado connosco durante mais de dois anos e colocou o Leixões em tribunal, executando até as chuteiras dos jogadores), quando nos encontrávamos, depois do fecho das Redacções dos jornais do Porto, com o Pedroto já na moda, volta a meia para o fazer saltar dos carris, alguém do lado atirava: "Ó Zé Maria, olha que eu vou buscar o livro do Ruperto Garcia". Entornava-se o caldo. Pedroto não gostava da recordação.
Mas, na verdade, acabaria por ser um grande senhor do futebol português que cedo nos deixou.
E, nós, apesar de todos os agravos que chegamos a receber e que iremos receber ao evocar este episódio, tudo perdoo, porque para Pedroto a sua primeira camisola foi o Leixões, depois o Lusitano de Vila Real de Santo António, seguido da passagem pelo Belenenses, a caminho do Porto, por 300 contos, e com o Leixões a ser esquecido. Tudo ao abrigo da Lei Militar, a Bem da Nação, por influência do adepto de Belém, chamado Américo Tomás.
Mas, de vez em quando, irei contar outras histórias. Algumas também com Pedroto. No Leixões.

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